quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Seria eu um feliz mandacaru



Estava eu rumando pela estrada que era desbarrocada e sem destino. Cansada com meus pés rachados da poeira e das pedras daquelas paragens. Ia apressada com minha lata de água na cabeça, peso morto, que machuca.

Machuca mais quando penso nos porquês. Por que eu não sou aquele mandacaru da beira da estrada? Ser o mandacaru.

O mandacaru nasce pequenino, mas já se impõe entre as plantações com seus espinhos. Cresce chegando a alcançar quase cinco metros, verdinho, verdinho. Resiste às mais brabas secas que o sertão pode atravessar. Não necessita apanhar água a longa distância como eu, ele a armazena nas suas raízes e vai aos poucos utilizando-a para permanecer forte e imponente.

Seria eu um feliz mandacaru...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Os Rubaiyat de Omar Khayyam




Omar Khayyam foi poeta, matemático e astrônomo irariano. Nasceu na Pérsia em 25 de Julho de 1048 e morreu em 4 de Dezembro de 1131. Foi responsável por calcular o calendário Persa. Contribuiu em algébra com o método para resolver equações cúbicas pela intersecção de uma parábola com um círculo , que viria a ser retomada séculos depois por Descartes.
A filosofia de Omar era bastante diferenciada dos dogmas islâmicos. Concordou com a existência de Deus mas se opôs à noção de que cada acontecimento e fenômeno particular era o resultado de intervenção divina. Em vez disso ele apoiou a visão que leis da natureza explicam todos fenômenos particulares da vida observada.
De sua poesia conhecemos os Rubaiyat que grosseiramente significam as "quadras". sua tradução mais célebre para o português é de Edward Fitzgerad em 1839.
A seguir alguns de seus Rubaiyat.

Noite, silêncio, folhas imóveis;

imóvel o meu pensamento.

Onde estás, tu que me ofereceste a taça?

Hoje caiu a primeira pétala.


Eu sei, uma rosa não murcha

perto de quem tu agora sacias a sede;

mas sentes a falta do prazer que eu soube te dar,

e que te fez desfalecer.


Acorda... e olha como o sol em seu regresso

vai apagando as estrelas do campo da noite;

do mesmo modo ele vai desvanecer

as grandes luzes da soberba torre do Sultão.


Olha com indulgência aqueles que se embriagam;

os teus defeitos não são menores.

Se queres paz e serenidade, lembra-te

da dor de tantos outros, e te julgarás feliz.


Que o teu saber não humilhe o teu próximo.

Cuidado, não deixes que a ira te domine.

Se esperas a paz, sorri ao destino que te fere;

não firas ninguém

Busca a felicidade agora, não sabes de amanhã.

Apanha um grande copo cheio de vinho,

senta-te ao luar, e pensa:

Talvez amanhã a lua me procure em vão.


Alcorão, o livro supremo, pode ser lido às vezes,

mas ninguém se deleita sempre em suas páginas.

No copo de vinho está gravado um texto de adorável

sabedoria que a boca lê, a cada vez com mais delícia.


Há muito tempo, esta ânfora foi um amante,

como eu: sofria com a indiferença de uma mulher;

a asa curva no gargalo é o braço que enlaçava

os ombros lisos da bem amada.


É inútil a tua aflição;

nada podes sobre o teu destino.

Se és prudente, toma o que tens à mão.

Amanhã... que sabes do amanhã?


Não vamos falar agora, dá-me vinho. Nesta noite

a tua boca é a mais linda rosa, e me basta.

Dá-me vinho, e que seja vermelho como os teus lábios;

o meu remorso será leve como os teus cabelos.


Além da Terra, pelo Infinito,

procurei, em vão, o Céu e o Inferno.

Depois uma voz me disse:

Céu e Inferno estão em ti.


O vasto mundo: um grão de areia no espaço.

A ciência dos homens: palavras. Os povos,

os animais, as flores dos sete climas: sombras.

O profundo resultado da tua meditação: nada.


Bebe vinho, ele te devolverá a mocidade,

a divina estação das rosas, da vida eterna,

dos amigos sinceros. Bebe, e desfruta

o instante fugidio que é a tua vida.


Um dia pedi a um velho sábio

que me falasse sobre os que já se foram.

Ele disse:

Não voltarão. Eis o que sei.