terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Gênio do Mal







Gostavas de tragar o universo inteiro,
Mulher impura e cruel! Teu peito carniceiro,
Para se exercitar no jogo singular,
Por dia um coração precisa devorar.
Os teus olhos, a arder, lembram as gambiarras
Das barracas de feira, e prendem como garras;
Usam com insolência os filtros infernais,
Levando a perdição às almas dos mortais.
Ó monstro surdo e cego, em maldades fecundo!
Engenho salutar, que exaure o sangue do mundo
Tu não sentes pudor? o pejo não te invade?
Nenhum espelho há que te mostre a verdade?
A grandeza do mal, com que tu folgas tanto.
Nunca, jamais, te fez recuar com espanto
Quando a Natureza-mãe, com um fim ignorado,
— Ó mulher infernal, rainha do Pecado! —
Vai recorrer a ti para um gênio formar?
Ó grandeza de lama! ó ignomínia sem par.



Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"


domingo, 17 de novembro de 2013

Se eu soubesse desenhar



Desenharia os traços de uma face iluminada pela luz da lua em uma noite primaveril....
Capturaria nas minhas telas, o cintilar de um mundo existente entre olhos e bocas...
Desenharia uma alcova primitiva habitada por uma fera que quando beijada, tornava-se ainda mais mística!
Se eu soubesse desenhar...
Construiria com meus lápis em muitas cores
Aquelas montanhas feitas a partir de teus dedos
Quando deslizam sobre o que é encantado...
Quando tocam a harpa dos anjos e rouba os símbolos secretos...
Se eu fosse Leonardo Da Vinci, Van Gogh ou Renoir,
Desenharia o teu nome nas telas da eternidade...
Pintaria o teu rosto com o sangue de um coração que te ama desde a época dos deuses antigos...
Se eu soubesse desenhar...
Dar-te-ia a forma dos meus sonhos
Em meio à penumbra de uma habitação estranha
Cuja luz que resplandece é a de teus olhos em meio ao luar
Guiando os cegos do fundo da noite...
Se eu soubesse desenhar...
Desenharia uma poesia que ganharia vida com o sol
E cantaria para ti as verdadeiras histórias da humanidade...
Até o fim dos rabiscos da vida
Desenhadas aqui com um lápis sem borracha....

Se eu soubesse desenhar....

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Mosaico




Pedacinhos de gente
espalhados por esta sala
café, livros e muitos pensamentos
veem na direção dos meus olhos...
sinto-me compondo a sinfonia da vida
em cada pedacinho deixado por onde andei...
Não desejo juntá-los,
para nunca descobrir o que fui
ou o que vou ser...
Pedacinhos de gente em mim...
regados pelos pingos de chuva
ou de suor...
Pedacinhos perdidos por aí
que poderão compor o mosaico
para ornamentar a casa que habita o amor...

Reflexos






Reflexos...

de um mundo oculto
habitado pelo sol
inspirado nos raios de sorrisos humanos...
espelhos reais...
encantados no meu quarto
quando traduzem o que sou
ou finjo ser!
Reflexos de mim...
de ti...
de pessoas nuas...
desprovidas de si
quando renovam suas imagens
para mirarem-se belas
e buscar seus falsos semblantes
encobertos pelas meias verdades...
ditas nos reflexos...
reflexos de mim...
de tempos idos...
daquelas pedras
ao comporem as ladeiras
que emolduram a minha alma...
reflexos...
eu não sei o que dizem agora!!!


domingo, 10 de novembro de 2013

O Corvo

Uma homenagem a quem tanto me inspira...





      O CORVO
      (de Edgar Allan Poe)


    Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
    Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
    E já quase adormecia, ouvi o que parecia
    O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
    "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.


    É só isto, e nada mais."

    Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
    E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
    Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
    P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
    Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
    Mas sem nome aqui jamais!

    Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
    Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
    Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
    "É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
    Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
    É só isto, e nada mais".

    E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
    "Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
    Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
    Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
    Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
    Noite, noite e nada mais.

    A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
    Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
    Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
    E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
    Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
    Isso só e nada mais.

    Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
    Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
    "Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
    Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
    Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
    "É o vento, e nada mais."

    Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
    Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
    Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
    Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
    Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
    Foi, pousou, e nada mais.

    E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
    Com o solene decoro de seus ares rituais.
    "Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
    Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
    Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
    Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
    Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
    Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
    Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
    Com o nome "Nunca mais".

    Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
    Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
    Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
    Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
    Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
    "Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
    Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
    Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
    E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
    Era este "Nunca mais".

    Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
    Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
    E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
    Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
    Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
    Com aquele "Nunca mais".

    Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
    À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
    Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
    No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
    Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
    Reclinar-se-á nunca mais!

    Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
    Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
    "Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
    O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
    O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
    Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
    A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
    A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
    Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
    Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
    Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
    Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
    Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
    Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
    Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
    Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
    Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
    Disse o corvo, "Nunca mais".

    E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
    No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
    Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
    E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
    Libertar-se-á... nunca mais!

    Fernando Pessoa
    Traduzido de The Raven, de Edgard Allan Poe, ritmicamente conforme com o original.

Sonhos...



Depois daqueles tempos de festa, chorando e cantando eu vi o anoitecer...
Sentada num banco de bar ouvia apenas os ecos do vento em meio à escuridão que me rodeava...
Encima, suspenso no ar rarefeito, havia um vulto que habitava profundamente abaixo da luz...
Ele veio à terra de forma sombria, apenas para me oferecer de sua bebida, de seu mundo...
Aquela era uma noite de inverno...
e eu, apenas uma menina a vagar...
Os olhos da noite traziam medo, era a face de um mal amado...
Meu espírito gritava, mas eu não podia escapar...
Naquele instante, ao beber daquele vulto, 
Eu me lembrei que possuo mais lembranças do que se tivesse mil anos...
Estava presa àqueles olhos,
Olhos com ar de insanidade que se dedicavam a me decifrar a alma....
Por um instante lembrei-me que ninguém me ensinou nada sobre a terra...
Eu nada sabia, a não ser que aquele encontro era o meu credo...
Algo se agitava sobre mim...
Os estranhos que passavam na rua riam das marcas que eu trazia no rosto,
E eu só enxergava o cemitério ao lado...
E as mãos que me conduziam até ele,
E a voz que dizia: “eu sou você e tudo o que vejo sou eu”.
Uma noite cheia de assombros...
 Restava um cristão piedoso,
Que enterrava sob os escombros das tumbas, as suas tristezas...
Mas ao meu lado, o frio da noite me presenteava com uma rosa encharcada de sangue...
Uivos de lobos solitários acompanhavam-nos,
Feiticeiros famintos festejavam-nos...
Nunca senti tanto medo, nem mesmo quando tive um punhal cravado no peito!
E foi com uma punhalada que aquela noite invadiu o meu coração triste...
E do meu espírito humilhado o frio fez-se descendente...
Implorei às sombras que me dessem liberdade...
Mas não! Era um punhal envenenado
E ninguém poderia me livrar,
Pois livre, o meu beijo ressuscitaria o cadáver de meu próprio vampiro!
Somente ele poderia me conduzir...
E ninguém fecharia os meus olhos...
E ninguém comigo falaria...
E eu nada poderia ver ao redor da lua...
E eu passei a implorar a sua presença
Até dormir e descobrir que tudo era sonho...
Sonhos...
Até acordar e ao meu lado encontrar
Uma rosa encharcada de sangue!




domingo, 3 de novembro de 2013

Partida





Eu ouvi um acorde secreto nos céus
Tocado por um anjo...
Na terra, o rei confuso compõe hinos a sua divindade....
Um salmo soa nas montanhas...
E eu grito alto ao vento....
Que preciso ver a beleza da sua existência...
Os meus sonhos quebraram o meu trono.
E vi iluminada a solidão...
Talvez eu já estivesse aqui antes...
Eu costumava andar por aí, sem destino.....
Nos caminhos percorridos, descobri que
O amor não é uma certeza de vitória,
Mas uma fria partida que cantamos solitários
E que de tão belo, desperta os que dormem...
Tem coisas que eu não sei mais...
Talvez os anjos toquem o meu coração....
Mas o que eu sei do amor:
É o choro que você não pode ouvir esta noite....
Que ninguém pode por não ter luz
É o frio sabor da partida...

sábado, 2 de novembro de 2013

A beleza de ser




Manhã

Acordei ao som das asas das borboletas brincando na minha janela...
Abri os olhos e senti vontade de beber o vinho da vida...
E cantar para o crescimento do dia que amanhecia...
O som do borboletear diante dos meus olhos,
Era a pronúncia do seu nome
Que pela primeira vez eu ouvia junto às harpas dos anjos
A cantar e tocar todas as aleluias!!!
Seu nome tem letras que formam as águas do rio corrente
Em minhas veias...
E é nesse rio que irei navegar até o anoitecer...

Tarde

Na floresta eu vi espinhos, flores, cores, pedras, cantos e desejos...
Eu quis cantar, junto aos pássaros, ao sol, aos céus...
Tive medo...
Meu canto poderia atormentar o que dorme na escuridão do dia
E abrir o caminho sangrento até aquele que me dava as mãos...
Então um baile perfumado com as notas da natureza surgiu diante dos meus olhos...
Gente, folhas e flores dançavam sem medo...
Abri os meus olhos como as folhagens que caiam também do céu...
E vi um espírito iluminando a tarde
Espírito denso e profundo como são os abismos
A atrair poetas e amantes...
E tudo em mim ardeu como os pecados na inquisição...
Ali, pedi ao tempo que me deixasse ver as cerejeiras
Que nasciam de um encantamento...
Eu vi que tudo era vazio e pobre em mim
Tudo era de todos e de ninguém
Até que aquele instante me preencheu de dádivas
E coloriram o meu outono...

Noite

Era saboroso o silêncio que vinha do mar...
Encharcada de desejos era a luz da lua...
Dos astros que estavam diante de mim,
Escolhi senão aquele predestinado,
Desde então, meu jazigo tem sido o reencontro
Todas as gotas daquele mar me ferem
Todas as pedras daquele canto me cobrem...
Todos os raios de luzes, as vozes e os passos dos que lá estavam me visitam
Atormentam-me até que eu diga
Que quis todos os seus dons...
E o seu coração selvagem...
Tortura essa travessia noturna...
Com medo agarro-me àquela garrafa
Que na sua missão levava mensagens aos perdidos....
Por isso pedi à lua
Que tocasse a valsa escura para que os barcos dançassem
Junto às ondas do mar
Assustando os viageiros sem destino...
Ali, eu tive um desejo:
Que ninguém mais dormisse com os meus sonhos...
Nem repousasse à minha sombra...
Pois eu só queria seguir aquelas águas que me lavavam a alma...
E que me levavam para a noite, para o mundo, para o vento cujo destino
É o sonho de não ser sem ti
De ser seu sono profundo...
Volto, deito e acordo ao som de asas de borboletas...




quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Labirintais





Entre paredes ou labirintos?
Inquietações do ego ou de uma mente insana?
Poderia muito bem ser um atalho entre os abismos cerebrais e as cadeias de carne do coração...
Não sei...
por hora são caminhos que me levam a beijar a razão...
Paredes eu vejo! grafadas com ideias e histórias de fatos não ocorridos...
Labirintos de sons lentos, mas de giros longos e sinuosas manifestações espirituais...
Uma coisa é certa: não haverá nunca uma porta!
Porque já estou dentro...
E não há segredos, nem divagações...
São caminhos e bifurcações sem fim...
E não haverá fera ou herói...
Pois ambos são homens em formas estranhas...
Que doam imagens tenebrosas às paredes não virgens...
Não há como escapar!
É um destino de ferro...
A única forma é esperar...
E de tanto esperar, vou petrificar e volver!!!

domingo, 20 de outubro de 2013

Da liberdade de dançar com o fogo





Não quero me conhecer...
Não quero aprisionar-me em teorias vãs
Que nada dizem sobre mim...
Não quero divãs nem analistas...
O que eu sei?
Não importa!
Prefiro vagar por entre os mundos...
Luz e trevas, ambas bailando insinuantes diante de meus olhos...
Escolho a floresta.
A casa da Yaga e seus ensinamentos...
Eu quero desse conhecimento
Do jogo da vida.
A minha vida é o prêmio do jogo.
Quero o saber que vem das chamas daquele fogo
Que para existir e se manter aceso, preciso dançar ao seu redor...
Fogo no qual medo e amor unem-se diante de mim
Para iluminar a floresta onde os caminhos se cruzam

Mas não mais me confundem.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

No tempo











Hoje eu estou com uma vontade de tocar os sinos,
Os órgãos das catedrais
E a flauta mágica...
Tudo no mesmo compasso das batidas do meu coração...
Hoje eu queria nascer e também visitar os cemitérios...
Mirar o meu amor que se foi
Mas imortal no retrato...
Hoje eu queria envelhecer
Na certeza de que ganhei as estradas do tempo...
Queria por um momento ouvir o som dos passos incertos que dei na vida
Hoje eu queria ter um filho...
E poder mergulhar na minha essência...
Queria tocar as nuvens turvas da dúvida...
Fazer a minha cama na floresta
E esperar a mística natureza me envolver...
Mas hoje eu só poderei encontrar uma saída
Ao deixar meus pensamentos dançarem loucos...
Sacudindo com eles o íntimo do meu ser...
Aonde habitam todas as criaturas guardiãs
do baú com o amor que renasce.



sexta-feira, 13 de setembro de 2013

De invisíveis traços são feitos os seus sentimentos...
Não há noite nem dia
Ou alvorecer de uma era...
Está tão pálida a sua essência...
Perdeu-se no seu mundo de encantamentos...
Apaixonou-se pelo inexistente...
Feito raízes de fumaça é a sua presença
De tão linda, enfeitiçou a natureza...
Agora, encontra-se presa a um martírio perpétuo
De dançar todos os cantos
E embriagar-se com todas as belezas

Que não mudou os seus traços e nem clareou os seus fúnebres olhos...

domingo, 21 de julho de 2013

Eu sou eu agora...




De um tempo glorioso ficaram apenas as lembranças,
antes em cores, agora em bronze...
Quero o meu cavalo,
vou cavalgar até o reino distante...
roubar a coroa do príncipe
e guiar o meu exército...
são os meus pensamentos...
Meu corpo já não suporta o peso da armadura...
me despi
eu, sou eu agora...
tambores soam ao longe...
não posso marchar...
estou presa pelo peso dos anos...
minhas asas caíram...
eu, sou eu agora...
Ao longe miro a floresta...
ouço ecos de tempo idos...
minha cabeça queima...
são chamados de uma juventude
agora, pura natureza...
posso vê-la andando entre as árvores
vivendo suas magias...
são pensamentos...
poi, eu, sou eu agora!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Misteriosa dama







Cores e magias refletem o espelho daquela que de ti roubou a paz...
frio como o vento do inverno é o seu leito sem a misteriosa dama
obscura e lúgubre.
Ao ir embora levou as trevas amante do poeta...
O seu consolo é alma inquieta e peregrina
que beija o mistério daqueles olhos negros, toda vez que dorme ou vaga
pelas ruas vazias, nas madrugadas longas....
Nas esquinas frias ele a encontra,
seu corpo quente e mortal o espreita nas curvas daquela estrada...
Encontrarás sua dama, poeta....
quando beberes da ânfora que o cara do bar te oferece...
Sorte tens tu, muito mais do que os homens normais...
seu espírito estará com aquela misteriosa criatura
toda vez que sua caneta riscar o papel...
E saciares sua alma sedenta do inexplicável...

Tantos Sertões




Sertões de Zezinhos
com seus chapéus de palha
encantando os pássaros e inspirando poesias...
embalando com os seus assobios os corações das moças...
que por eles esperam nas curvas das estradas
repletas de poeiras e vidas...
Sertões de Marias...
xique e xique e mandacaru
potes de barro na cabeça e madrugadas a esperar
nas cacimbas as gotas d'água...
de notinha com seus Zezinhos....
as Marias se aquecem
à luz do lampião...
tendo como companhia
o céu iluminado de felicidade
e a melodia da orquestra formada por sapos e grilos...
De manhã ao levantarem, Marias e Zezinhos
revivem sua fé em Padim Cícero, Frei Damião e Luiz Gonzaga...
São humildes, mas deixam enamorados os mais perfeitos poetas...
O sertão deles não necessita de artistas,
ele é a arte mais bela....
Quem o conhecer, nunca o deixará de amar!

terça-feira, 25 de junho de 2013

Porque eu me apaixonei...





eu não esperava aquele encontro marcado....
eu não esperava aqueles olhos no fim da noite...
eu não esperava não poder fugir do brilho de seu sorriso...
da magia de sua presença...
Será mesmo que algumas coisas estão destinadas a acontecer?
Deixe-me tocar as suas mãos...
é um pecado desejá-las?
Deixe-me encontrar-te dentre todos os seres...
levá-lo aos campos desertos
onde as flores brotarão
as águas correrão ao encontro de seus destinos...
como nós! Doando um ao outro
o bem mais precioso: a vida...
eu me apaixonei por você
porque eu não sei mais ser...
sem o brilho que iluminou aquela noite fria de inverno...
sem o calor que ao me deixar, leva-me a vida...

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Perfume


http://2.bp.blogspot.com/-qaBB5erWCv0/TVQ3QrSvG-I/AAAAAAAAChA/QrEFghqRL7c/s400/doce+amor.jpg

Agora sabes do que sou feita...
Sim, essa noite desvendastes os meus pensamentos...
Todos os meus segredos foram derramados nas bordas de sua boca...
Um perfume com gosto de amor
Pairava sobre mim....
A dança dos desejos envolveu-me
E roubou-me a paz!
Aonde estou?
Vagando pela imensidão do seu carinho
Que já não tenho...
Vi sua face desfilando pelo tempo
E me fiz sonhar em te encantar...
Seduzir-te com o canto dos pássaros...
A dança dos lírios...
O brilho que jaz na escuridão da noite...
Uma cortina de estrelas...
E o fogo da perdição...
Quem sou, senão uma deusa caída!!!
Condenada à imortalidade do desejo
De beijar docemente seu corpo viril
Que a mim não foi dado...
Condeno-te a sentir
O meu perfume perturbador
Que incendeia a vontade e a volúpia...
Razão da sua loucura!!!

a canção do coração




Em meio às tristezas que tentamos esconder por trás de muros cinzas
pintados de ilusão,
dentro de mentes sombrias que partilham a frieza da noite,
existe algo bom que direi a você:
abra-se ao que é eterno
ao que habita esse mundo desde o princípio dos tempos...
abra-se ao amor...
e aí, a melodia da vida sorrirá...
as rosas desabrocharão ao vento numa verdadeira simbiose de amor...
os acordes musicais desfilarão nas esquinas...
e então, de mãos dadas voltaremos para casa
e ouviremos a canção de nossos corações....

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Meu sertão







Meu sertão....
de cantos e encantos...
da moda de viola...
do cantar do sabiá...

aqui, aonde vive o sertanejo
de brilho nos olhos
e coração valente!
Que no gole da cabaça
sacia a sua sede...

sede de ver o sertão florido
os mandacarus felizes...
o sofrê pintando de vermelho intenso o azul do céu.

sede de ver a casa cheia
de sementes, fogo, calor humano
e certezas...

No meu sertão...
repleto de bondades, esperanças...
As histórias de minha avó...
iluminavam os meus sonhos...
na terra árida...

No meu sertão...
cantar é viver...
 é dançar de pés descalços na poeria
 e na chuva,
que quando chega
 traz vida e alegria!

No meu sertão
o sol é claro e forte...
parece o sertanejo,
que com bondade nas mãos e nas faces
enfrenta com humildade o seu destino... 
ser como o sertão:
 encantado e resistente...

No meu sertão
viveu Virgulino,
Gonzaga, Maria, Ana...
e hoje vive quem queira se achegar,
entrar e se saciar com um gole de café...

Meu sertão
de zabumbas, pífanos e acordeons...
a assobiarem as mais lindas melodias...
que enamoram moços e moças...
e fazem mais quentes as noites de São João...

Meu sertão...
se um dia eu me for daqui...
não irei me esquecer
de que, como as plantas dessa terra,
tenho raízes,
que fincadas serão
o meu sertão...




quinta-feira, 9 de maio de 2013

Primeira síntese




A alma feminina é por natureza selvagem...
e todas as fêmeas se assemelham...
há nas mulheres comportamentos bem parecidos aos de fêmeas de outras espécies...
algumas, apenas suprimem essas qualidades,
sim, são qualidades, a selvageria, a defesa, o ataque, o bote, o ninho...
O mundo (homem) na qual estamos inseridas, nos modelou para frearmos ou negarmos esses comportamentos...
nascemos condicionadas pela razão, disfarçada nas mais variadas catequeses a nós submetidas
e assim, nossa alma selvagem vira sonho, lembranças que não sabemos de onde provém e por fim, torna-se apenas poeira misturada ao resto do universo que nos modelou...
No entanto, basta-nos observar o nosso corpo...
ele é a síntese de tudo o que somos: encantamento, prazer, a casa, o ninho; todos os reflexos da natureza...
e o corpo é capaz de manifestar a nossa alma selvagem, quando decidimos retornar a nossa condição primitiva...
Não foi por acaso que o feminino varou a história em condições tão díspares: deusas e bruxas
adoradas e temidas, divina e demoníaca, esposa de deus e amante do diabo...
Essas leituras não são nada mais do que, o entendimento do mundo (homem), sobre a manifestação do espírito natural feminino...
espíritos da natureza...
E isso levou a mulher a ser identificada como tendo ou quatro patas (loba, leoa)
ou nenhuma pata (a serpente)...
A mulher contemporânea, por todas essas razões, se afastou da divina e queimou a sua alma selvagem...
A partir de então, ela passou a se identificar com o seu predador, como parte dele, tornando-se sua cativa!.





segunda-feira, 6 de maio de 2013

Em algum lugar





Vagava perdido como um predador sem o brilho do luar...
não havia sorrisos, desejos nem a luz do sol,
desde que você se foi para as terras encantadas
de onde não se via pássaros cantantes, nem flores nos jardins...
Apenas olhos tristes arrastando correntes de nostalgias...

Não, cavaleiro! Não era um sonho...
era uma vida tórrida, marcada por caminhos desertos....
feitos da escuridão, branca de medo...
e saudade de um amor que ficou...
lembranças a ferir o peito, a secar os lábios, a mudar o semblante!
Ah! essa é a dor de amar o que restou perdido nas brumas do passado...
que é irremediável como um claustro medieval: cinza e frio...

Um dia, o céu mudou...
os astros sorriram, e eu quis ir embora para a estrela mais linda,
a mais distante...
Não sei porém se é real ou projeção de meus desejos....
Mas sairei com o por do sol,
caminharei até o fim ao reencontro da doce dor, que causa o amor!

Andarei por vales e colinas até que uma beleza infinda encha-me o coração...
Sim, será ela!
a lembrança que já não tinha mais face, nem formas dentro de mim....
sorrirei cantante para ela,
a apertarei em meus braços e morrerei naquele instante...

Quando voltei ainda só, não desisti.
Persegui a estrela, seus raios, sua ousadia em brilhar com tanta força...
e depois de muito caminhar, lá estava ela...
no fim do caminho, no fim do dia...
com todo o seu esplendor e escuridão...
como são todos os deuses malvados...

Ah! minha pequena nostalgia...
és tão linda e profunda...
tens cores indecifráveis...
havia me esquecido como és bela e encantada...
poesia és teu nome...
com um riso fácil a encantar artistas e amantes...

Deixa-me brincar como se não houvesse fim
esse dia de algodão
doce....
Deixa-me ser infante em teu amor
para crescermos juntos...
e de mãos dadas ver o mar
consolo meu nas tardes em que me condenas
sem a tua presença...


terça-feira, 23 de abril de 2013

Adaptando





Na tarde que cai e que enche de raios a minha casa
vejo luzes lindas, tão lindas que me lembro de minha mãe...
ah se ela estivesse aqui!
ainda me recordo dos seus lábios ao me dizer:
filha você vai, mas poderá sempre voltar...
Das horas do dia, as que mais se parecem com a minha mãe,
são as anteriores ao por do sol...
pois são as mais profundas...
as que mais me despertam amor...
e por isso todas as tardes miro o horizonte
pensando que existe um caminho que poderei sempre seguir:
aquele que me leva de volta para casa... 
aonde quer que eu esteja..
quando estou muito distante das luzes solares
imagino que a escuridão pode ser rompida pela luz da lua...
ah, ela também me lembra a minha mãe...
forte e resistente capaz de iluminar os recônditos da terra...
a olhar para mim, mesmo que distante com um olhar bondoso..
longe estou...
mas eu sei que sempre poderei voltar....
e poderei recomeçar...


domingo, 21 de abril de 2013

fósforo






Nos acordes do tempo eu grito uma canção de amor solitário...
É! não tenho pena de quem nada tem para compartilhar
quando há tanta riqueza debaixo do sol...
ah! não há com quem partilhar...
partilha a alegria de viver e morrer a cada dia contigo...
dê a ti o melhor vinho, a melhor roupa, o melhor beijo, a mais profunda carícia...
se não tem dinheiro, sonhe e invente...
olhe o céu, sorria profundamente e um anjo te tocará..
Porque o amor é como um palito de fósforo, mas que nunca se acenderá sozinho...
Para alcançar o seu fim, o palito necessitará de ajuda: oxigênio ou outra chama...
é na busca implacável pelo oxigênio que ao tentar acender um único palito causamos a combustão da caixa toda e certamente um desastre que nos põe diante do início de tudo...
por isso é necessário cantar uma música engasgada, mesmo sem plateia
caminhar sem destino certo...
rir sem motivo,
chorar...
sentir dor, medo e frio...
sentir calor!!!
É preciso amar talvez não alguém, mas amar por amar...
assim, o palito de fósforo se tornará uma chama
capaz de iluminar os caminhos e os corações sombrios
de uma vida solitária
de um mundo tórrido
e de sentimentos gélidos...

terça-feira, 16 de abril de 2013

Viver...




Andei pensando sobre a arte de viver...
viver é diferente de ter vida
a maioria de nós temos apenas vida
e sequer sabemos que destino dar a ela..
não sou diferente, mas eu quero viver!
quero voltar!
mas parece que uma parte de mim
ficou presa a uma vida que se foi
antes que os desejos pudessem ter sido realizados
Por isso, é difícil voltar a viver...
Pra ser sincera, nem vejo muito sentido em ter vida...
pessoas nascem, crescem, partem...
e o mundo é tão indiferente..
Perdemos tanto tempo nos importando
com o que não tem importância...
Mas, quer saber, isso é bom..
Cada um é tão vazio de si
que necessita de gente e coisas sem importância para viver...
É, viver! 
 sem arte...
E apenas por medo..
Sabe, estou crendo que a parte de mim que se foi
mas que ainda impede que eu viva
foi para que eu pudesse compreender
que ninguém no mundo
jamais descobrirá o que é viver!
Por isso, morrerei dizendo a mim mesma,
mesmo sem saber o que significa:
É preciso viver!!!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Eu, Natureza...





O que te digo baixinho ao som dos meus próprios suspiros é o canto belo!
Caminho de uma vida plena...
Rica? Não amor!! não de vulnerável fortuna...
senão de tempo e encanto...
O que sei de nós: eu, a terra... você, a chuva...
eu, o bosque, você, os rios que nascem e morrem dentro do bosque...
Eu me visto de natureza sussurrante,
como os galhos e folhas dançantes ao gosto do vento...
bela música sem melodia,
composta por um cantor que não veio ao mundo...
e você, amor! tempo...
a varrer o meu jardim interior
a secar o sabor das flores, doces para os colibris...
Mas eu sou a árvore e o carpinteiro...
meus sussurros inundam de cores os mundos...
e me finco como fibras impiedosas
crio raízes...
e me ergo grandemente depois da chuva...

quarta-feira, 20 de março de 2013

Apenas sonho



do meu quarto avisto um jardim de rosas sagradas...
molhadas com o orvalho das manhãs sem sol...
a doce brisa que faz dançar as folhas encharcadas
lava-me o corpo nu...
e dou-me conta da existência
não a minha, mas a daquele corpo da noite anterior...
embriagado pelo amanhecer...
sem se importar com o tempo, preso, sem vontade de ir...
que diz de mim... ali imóvel mirando o jardim...
me findo no desejo de beber
o amor mordaz daquele que nem sabe quem sou...
mas que decidiu atravessar o deserto do meu ser...
sem saber se sou areia...
talvez eu seja as gotas do orvalho das manhãs sem sol
talvez eu seque aos raios que vão nascer...
e ao fim desta manhã, nem serei mais riscos, sombras ou cheiros...
terei partido e deixado apenas sonhos...

sexta-feira, 8 de março de 2013

Deusa




Quem é essa figura que surge das brumas do mar?
Quem é esse ser nascido do cérebro do grande deus?
Que imagem esplêndida é essa, forjada a partir da costela do varão?
Que ser é esse, cuja fertilidade seduz a todas as criaturas?
Cujo ventre é o mais belo cálice da concepção humana
E que aflora a sensualidade à tez rosada...

De seios firmes, evolve todos os seres no seu calor
A criatura inspirada na mais bela arte tornou-se deusa!
Com seu ventre fértil é deusa e mãe de tudo o que é vida
Pela astúcia e habilidade, és deusa da guerra...

A volúpia, a sensualidade e o calor a faz também deusa do amor e da beleza...
És a deusa do campo, das cidades, da família...
És a deusa do homem que guerreou contra nações pelo seu amor...
És a deusa da morte. Muitos se perderam em seus braços mordazes...
Mas és fonte de vida!
És rainha do mundo e mãe criadora...
A tal criatura formosa, muitos chamam-na simplesmente
MULHER!


(Renata Ferreira de Oliveira, Junho de 2007)