Manhã
Acordei ao som das asas das borboletas brincando na minha
janela...
Abri os olhos e senti vontade de beber o vinho da vida...
E cantar para o crescimento do dia que amanhecia...
O som do borboletear diante dos meus olhos,
Era a pronúncia do seu nome
Que pela primeira vez eu ouvia junto às harpas dos anjos
A cantar e tocar todas as aleluias!!!
Seu nome tem letras que formam as águas do rio corrente
Em minhas veias...
E é nesse rio que irei navegar até o anoitecer...
Tarde
Na floresta eu vi espinhos, flores, cores, pedras, cantos e
desejos...
Eu quis cantar, junto aos pássaros, ao sol, aos céus...
Tive medo...
Meu canto poderia atormentar o que dorme na escuridão do dia
E abrir o caminho sangrento até aquele que me dava as
mãos...
Então um baile perfumado com as notas da natureza surgiu
diante dos meus olhos...
Gente, folhas e flores dançavam sem medo...
Abri os meus olhos como as folhagens que caiam também do
céu...
E vi um espírito iluminando a tarde
Espírito denso e profundo como são os abismos
A atrair poetas e amantes...
E tudo em mim ardeu como os pecados na inquisição...
Ali, pedi ao tempo que me deixasse ver as cerejeiras
Que nasciam de um encantamento...
Eu vi que tudo era vazio e pobre em mim
Tudo era de todos e de ninguém
Até que aquele instante me preencheu de dádivas
E coloriram o meu outono...
Noite
Era saboroso o silêncio que vinha do mar...
Encharcada de desejos era a luz da lua...
Dos astros que estavam diante de mim,
Escolhi senão aquele predestinado,
Desde então, meu jazigo tem sido o reencontro
Todas as gotas daquele mar me ferem
Todas as pedras daquele canto me cobrem...
Todos os raios de luzes, as vozes e os passos dos que lá
estavam me visitam
Atormentam-me até que eu diga
Que quis todos os seus dons...
E o seu coração selvagem...
Tortura essa travessia noturna...
Com medo agarro-me àquela garrafa
Que na sua missão levava mensagens aos perdidos....
Por isso pedi à lua
Que tocasse a valsa escura para que os barcos dançassem
Junto às ondas do mar
Assustando os viageiros sem destino...
Ali, eu tive um desejo:
Que ninguém mais dormisse com os meus sonhos...
Nem repousasse à minha sombra...
Pois eu só queria seguir aquelas águas que me lavavam a
alma...
E que me levavam para a noite, para o mundo, para o vento
cujo destino
É o sonho de não ser sem ti
De ser seu sono profundo...
Volto, deito e acordo ao som de asas de borboletas...
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