quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Casa de Taipa


Nos meus tempos de meninota, a pequena casa em que vivia acolhia a vida com um doce fascínio.
Uma casinha de taipa herdada de meu avô foi a minha moradia, até que o tempo a dissipou.
O cenário era intrigante, pintava no sertão o quadro mais belo que meus olhos puderam contemplar.
A casa de taipa era como um castelo de sonhos, que despertava a imaginação de uma menina brincalhona, que acreditava ser aquele lugar um reino encantado.
Suas janelas foram passagens para o horizonte por detrás da serra. Lá onde o bem-te-vi cantava as proezas daquela terra.
Pela manhã, eu avistava a barriguda florida. Mágica a barriguda se tornava quando chegava o por do sol.

À notinha, pelas frestas das paredes, o brilho da lua enchia o lugar de festa e esplendor, levando dali todo o cansaço e a dor do dia.
A cor avermelhada das paredes feitas pelas mãos de meu avô lembrava a terra que ali criou vida.
A passagem do tempo fez a dor chegar, quando tivemos que nos retirar daquelas terras, em busca de sonhos que diziam estar em outro lugar.
O aconchego da casa de taipa, nunca mais pude ter. Tiraram-na de mim, e eu nem soube o porquê.
Agora que cresci, volto a olhar aquele belo cenário que havia no meu lugar. No meu sertão profundo, cheio de poesia e magia, ainda hoje, nos meus sonhos, repleto de alegria.
A casa de taipa tornou-se apenas uma lembrança daquele meu tempo de criança. Mas a barriguda, resistência criou, raízes ali fincou, mostrando-me que o tempo nada apagou e que, na verdade, minha casinha de taipa, novamente, terra se tornou.




Renata Ferreira de Oliveira (inverno de 2008)

8 comentários:

  1. Gosto muito do jeito que você narra as coisas do sertão!! Com muito pertencimento, enraizamento, amor pelas coisas humildes, mas muito grandes, que compõem a vida e a cultura sertaneja! Massa o texto sobre a casa de Taipa e de sua infância, simples, mas com uma enorme carga de fantasia, beleza, e por que não, muita sudade daqueles tempos passados...mas tão presentes...Cheirim!

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  2. Você contou sua história com um ar poético, fazendo de uma vida humilde um universo mágico. Seu texto me lembrou a trajetória da minha família.
    Fantástico!
    Abraço.

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    1. Que bom que gostaram.... são narrativas fantasiosas com ar de realidade....

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  3. "Maldição sobre a Jerusalem de Taipa!" São as palavras de Euclides da Cunha nos Sertões, relatando ao leitor o pensamento do padre que tentou corrigir a heterodoxia da cidade que o Conselheiro criou. Se não me engano, a primeira foto acima eh uma das casas de Canudos. Queria entender melhor essa frase de Euclides, e a sua estoria ajudou muito, obrigado!
    Sou norteamericano e adoro o sertão.

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    1. A primeira imagem é de Canudos sim...Que bom que gostou da estória... sou sertaneja e amo contar de forma poética as proezas e também mazelas dessa terra!

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  4. Minha querida, se não fosse eu já um apaixonado pelo sertão, apaixonaria-me agora, diante de tão belos versos, que expressam de forma tão verdadeira o que eu também sinto por esses lugares e essas gentes... fascinante!!!!!!!

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  5. pura fantasia, mas a dose é da realidade que vem dos meus olhos...

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  6. Essa foi minha realidade, sinto saudades dos tempo de criança ...ñ existia maldade , porem da dificuldade que vivi , isso ñ sinto falta ,mas a mesma faz parte de uma infância saudável
    Lugar que vivi tudo isso ;Mulungu Ipú ceará.


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